sábado, 18 de dezembro de 2010

VALORIZAÇÃO E GREVES: PROFISSIONAL DO MAGISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - UFRN




INTRODUÇÃO

Este relatório busca tratar não somente do tema proposto, mas trazer reflexões que provocaram todas as discussões que ocorreram no caminhar da disciplina, tanto a respeito da formação de docência, mas também as relações inerentes a mesma e a utilização da legislação como instrumento para a crítica. Foi-se utilizado como uma das fontes de informação, os depoimentos dos professores: Rodrigo Ribeiro Alves Neto, do Departamento de Filosofia e Francisca Aurinete Girão Barreto da Silva, do Departamento de História. Também se buscou a utilização de pesquisa na internet para coleta de dados sobre as leis de cargos e salários do Magistério Público Federal, voltando-se ao ensino superior, também notícias jornalísticas e textos utilizados na disciplina de OEB. A partir destes elementos, traça-se um balanço das perdas e conquistas dos profissionais de educação e também levantando outras discussões sobre a valorização desta classe.



Contexto histórico

Primeiramente, deve-se compreender que as leis de planos e cargos que vigoram atualmente são fruto de um processo de reivindicações por partes dos professores de nível superior em todo o Brasil. Na UFRN, em consonância com outras universidades brasileiras, foi palco de diversos processos de reivindicações e greves, principalmente nesta primeira década do séc. XXI. A mais comentada foi a greve ocorrida 2003, cujo objetivo era a reestruturação do salário e também se manter em oposição ao plano de reforma universitária do governo Lula.

O Luiz Inácio Lula da Silva recolocou em movimento a engrenagem de uma reforma universitária que, se tímida, modificou a concepção de universidade da Constituição Federal de 1988 e, neste período, o encaminhar destas instituições. A partir de uma aliança entre o Governo de Lula da Silva e por uma ONG francesa, ORUS, dirigida por Edgar Morin, foi erigido um consenso que pode redefinir profundamente a universidade brasileira e, até mesmo, de diversos países latino-americanos, representando a vitória de um projeto de reforma previdenciária e de bases, que no início prejudicou demasiadamente diversos profissionais.
Contudo, os professores conquistaram algumas vitórias importantes, como um melhoramento da organização estrutural da carreira, respeitando não apenas a titulação do mesmo, mas também os níveis de classe e reajustes ao seu tempo de serviço. A professora Francisca Aurinete Girão Barreto da Silva, Adjunta do Departamento de História, e com seus mais de 20 anos de docência na UFRN afirma ao ser entrevistada:

(...) Ocorreram outras greves e manifestações, que tornaram possível a organização destas (leis de cargos e salários) que está em vigor atualmente, sabendo que muito ainda deve ser feito. Por exemplo, antigamente, os salários eram medidos apenas por titulação acadêmica, não respeitando os diversos cursos de aperfeiçoamento, anos de trabalho e pratica profissional. Estamos num período de razoável conforto graças às reivindicações e também do apoio estudantil. (ENTREVISTA, 2010)
Pode-se perceber também que o apoio de outros agentes é de fundamental importância na luta por melhorias e valorização profissional, visto que muitos estudantes universitários também se tornarão futuros profissionais da área, fomentando assim um espírito de mudança nos padrões educacionais desde a formação.
Valorização e sociedade

O profissional de educação nunca se configurou como elemento fundamental na sociedade brasileira. O povo brasileiro ainda vem demonstrando grandes preconceitos a classe profissional em questão e todos nós sabemos que dificilmente esse estigma será eliminado por completo. O sistema que rege a educação nacional não tem suporte necessário para atingir positivamente todo o Brasil e peca contra suas próprias diretrizes legais. Os caminhos trilhados para o fortalecimento educacional foram breves, mas sabe-se também que num país relativamente novo e que veio pensar numa educação voltada para todos à menos de 100 anos atrás, pode se contentar com um futuro promissor aos seus filhos e netos. Como o Rodrigo Ribeiro Alves Neto, professor Adjunto do Departamento de Filosofia, afirma ao ser entrevistado:

(...) Ainda vai demorar muito para que os professores sejam bem visto pela sociedade e tenham a importância devida e merecida. isto é o que se deveria esperar da sociedade, mas só agora esse problema tenha começado a ganhar espaço. Como podemos ver em emendas constitucionais e, também, estão ganhado espaço na mídia à discussão do piso salarial dos profissionais de educação. (ENTREVISTA, 2010)

O professor universitário possui, de certo modo, certa relevância em detrimento dos professores do ensino secundário e primários, no entanto, seria deveras importante salientar que muito ainda pode ser mudado e repensado sobre o sistema escolar voltado ao Ensino Superior, visto que este é a porta de entrada para novos conhecimentos e achados científicos.
A retribuição dada pelos investimentos, mão de obra especializada, e conhecimentos acumulados pela sociedade ainda não se faz satisfatória. Sendo assim, mesmo com as merecidas conquistas dos educadores em busca de reconhecimento social, não podemos pensar numa valorização social sem uma interligação entre a universidade (e seus elementos) e os anseios sociais. Sem deixar de citar que muito ainda deve ser resolvido quanto aos outros níveis educacionais, que são a grande sona de educadores  e que, a cada dia, lutam por melhores remunerações e da própria estrutura escolar.

Conclusão

Este relatório consistiu ou, pelo menos almejou, em alcançar uma breve perspectiva a respeito da valorização do profissional da educação, tanto no seu âmbito de trabalho, isto é, na escola, na universidade ou na instituição que leciona como no próprio respaldo ou prestígio que a sociedade reproduz nas suas ações, relações e discursos acerca do profissional da educação, seus méritos e sua vida tanto na academia quanto fora dela, ou seja, nas suas relações decorrentes e que ocorre em virtude do seu trabalho. Tentou-se também trabalhar através das rupturas ocorridas nos períodos de greve existentes nos primeiros anos do séc. XXI. Com isso, a reportagens jornalísticas da época foram peças-chave para entender todos os processos, de um modo geral. A LDB e as Leis de Cargos e Salários, não foram citadas com tanta ênfase, mas foi de grande valia para a compreensão das normais legais e seus respectivos impasses que fomentaram as lutas por rupturas deste sistema educacional.


REFERÊNCIA:

LIMA, Lauro de Oliveira. Estórias da educação no Brasil: de Pombal a Passarinho. 3. ed. Rio de Janeiro: Brasília, 1969. 363 p.
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ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil. 13. ed. Petrópolis: Vozes, 1991.

SITES:



(Realizado à disciplina de 'Organização da Educação Brasileira" - OEB)

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

ANÁLISE DO LIVRO "ORFEU EXTÁTICO NA METRÓPOLE" A PARTIR DA "OPERAÇÃO HISTORIOGRAFICA" DE MICHEL DE CERTEAU


Lugar de fala:

Esta parte do roteiro analítico buscará entender as influências sociais que levaram o Nicolau Sevcenko a produzir seu trabalho. Por tanto, O importante ao tratarmos da história de vida deste historiador, seria pensarmos como as marcas de seu passado, os caminhos trilhados moldaram o Sevcenko até chegarmos a produção da sua pesquisa, do seu livro. Compreender o contexto histórico da época em que o Sevcenko foi interligado é extremamente importante para que possamos entender, por exemplo, o porquê do mesmo em estudar a História da sociedade e cultura Paulistana nas primeiras décadas do séc. XX. e não algo relativo a área das ciências naturais, tanto incentivado por sua família.
Seguindo um caminho que, no começo, até pode parecer um estudo meramente biográfico, mas que é de extrema importância para percebermos a construção do historiador e crítico da cultura Nicolau Sevcenko. Voltaremos ao passado de sua família e seguiremos até produção e publicação de sua tese de Livre-docência, Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes nos 20.
A família Sevcenko possui um passado polêmico, uma história que se entrelaça com outra história ainda maior e que marcou para sempre suas vidas. Filho de imigrantes Ucranianos, fugitivos da perseguição Bolchevique, Nicolau sabia que existia uma grande ferida não cicatrizada em sua família, lembranças de entes queridos mortos pela repressão stalinista e que era como um tabu para os mesmos,  o assunto não podia ser discutidos sem gerar desconforto e tristes lembranças entre seus familiares. Nascido em 1952, num período onde a 'Guerra fria' se fazia presente, o futuro historiador não pode deixar de lado a compreensão do passado de seus pais e parentes. A inquietação por querer compreender o contexto histórico de sua família, motivou Nicolau Sevcenko a ingressar na Graduação em História, mesmo ainda possuindo grande interesse pelas ciências naturais, principalmente pela medicina, que vem outrora motivá-lo a escrever sobre “A revolta da vacina” de 1983.
Outra questão que se liga ao processo de influências ligado a família do Sevcenko. Talvez por serem imigrantes Russo, vitimas da repressão lá ocorrida, ainda acreditavam no retorno ao seu país de origem. A primeira língua estudada pelo historiador foi a Russa, aprendendo também a religião e costumes de seu país. Quando perceberam que continuariam por um tempo maior no Brasil, colocaram o menino nas primeiras letras. O choque foi inevitável, fazendo até mesmo achar que todos os alunos que estudavam com ele eram estrangeiros. Lamentavelmente, sua mãe desfez sua inocente afirmação, dizendo que o mesmo era o estrangeiro no país. A curiosidade pela cultura brasileira foi quase que automática, fazendo com que o mesmo consumisse diversas obras literárias, músicas e participasse também do êxtase dos esportes de massa.



Na academia, Sevcenko pôde ampliar ainda mais seu mundo, principalmente por ser orientando da Maria Odila, que o norteou até o seu doutoramento. Começou a estudar temas ligados a cultura e sociedade, se ausentando então das discussões abarcadas pela realidade política e econômica que o país vivenciava na década de 70. Sofreu muito preconceito por parte de seus colegas de curso (afirmavam que ele desfocalizava as discussões ditos importantes naquela época, período de ditadura militar), mesmo assim, continuou seus estudos, criando sua tese chamada “Literatura como missão”, que não foi aceito pelo departamento de história, encaminhando para o de letras que por conseguinte o repassou para Ciências sociais. Por fim, retorna ao curso de história, onde esteve na banca examinadora o Sérgio Buarque de Holanda e outros grandes professores da USP. Numa de suas entrevistas, Nicolau afirma ter “lavado a alma” ao receber os Elogios do escritor de Raízes do Brasil.
Através da trajetória de vida do historiador, seus caminhos e influências, forçosas ou não, moldaram a mentalidade deste homem, tornando-o hoje um dos maiores representante da história contemporânea brasileira.
PRÁTICA:
Na década de 70 e 80, surgem outras discussões dentro da academia brasileira e que por conseguinte permitiram discussões que transcendem às visões econômicas e políticas, tanto discutidas no âmbito historiográfico daquela época. Sevcenko, orientando da Maria Odila, contestadora do Positivismo dentro do nosso país, utiliza-se desta nova corrente que permitem o uso de fontes diferenciadas como: literatura, iconografias e música.
Utilizou-se, por exemplo, de cronicas de jornais da década de 20 para mostrar uma comparação dos diversos tipos de identidades que compunha a cidade de São Paulo neste momento histórico. Os dois crônistas, 'S' e 'P', visualizam a realidade que se estabelecia de maneiras distintas, até certo ponto dialéticas. Um se entregava profundamente ao êxtase que mobilizava as massas, o carnaval, e o outro se propôs a um observação voyeurista, podendo assim entender e se comover com o outro lado da moeda. No livro podemos encontrar diversos trechos de poesia e fotos com representações artísticas e festivas, mas também imagens dos 'heróis' nacionais que se ligavam aos movimentos Órficos.
Podemos encontrar, como fonte de referência para a compreensão do contexto histórico nacional, além de uma gama de materiais como estatísticas e periódicos publicados, mas também as obras de Sérgio Buarque da Holanda (Raízes do Brasil) e Paulo Prado (Província e Nação). Hobsbawm (A invenção do cotidiano e The Age of Empire) e Hannah Arendt (Entre o passado e o futuro) já no âmbito internacional. Sem falar, nos estudos que ele já havia publicado (Literatura como Missão e outros).
Utiliza-se de Nietzsche para exemplificar a questão da dança como um elemento de exaltação do corpo em detrimento da mente, Walter Benjamin ao discutir a ideia de modernidade e urbanização e tantos outros vários pensadores que auxiliam na busca do Sevcenko na compreensão dos processos de dissolução das identidades e da cultura paulistana.
ESCRITA

Orfeu, personagem mitológico que, utilizando-se de sua harpa, detinha um poder de atingir a alma de todos os que ouviam de suas melodias, provocando uma espécie de êxtase frenético e incontrolável, foi o instrumento comparativo utilizado por Nicolau Sevcenko para dar luz a realidade paulistana do início do séc. XX. Orfeu tinha o poder de juntar ao seu redor até as pedras e elementos fixos, assim como o espirito que se manifestava na cidade de São Paulo, principalmente na década de 20, onde grande multidão de pessoas, esquecendo-se de suas próprias realidade, entregavam-se a contemplação artística de massas e a frenesia caótica e inconstante dos movimentos que se estabeleciam junto das casas, ruas e cada parede da gigantesca cidade metropolitana de São Paulo.


O sentimento de dissolução das identidades, que por conseguinte foi trocado uma crosta indefinível de sentimentos, batidas e movimentos, promoveram um sentimento de não desejo do passado, um sentimento que a lenda Orfeu pode nos fazer compreender, pois com olhar para trás (Os cinco “G” citados pelo autor), traziam sentimentos ruins e de tristeza a população paulistana.
Sevcenko não constrói uma narrativa, mas diversas que se entrelação e se completam, como um emaranhado de teias que produzem uma imagem profunda e tocante do passado nacional e mundial, tendo em vista que o autor não deixa de contextualizar todas a cadeias de influências, com os seus respectivos causadores: movimentos imperialistas, Primeira Grande Guerra, Segunda Revolução Industrial e tantos outros. O processo de desconstrução da mentalidade escravista, que se fazia em processo lento e doloroso, com o descaso do governo às classes menos favorecidas, o imigrantes que detinham suas particularidades, alto afirmavam-se dentro da cidade e utilização mecanismo “órficos” pelo governo para promoção de suas candidaturas.


Posso citar também, na segunda parte de suas análise, sobre a construção de espaços que pudessem promover diariamente todos as manifestações supracitadas, como estádios de futebol, casas de chá e outros. Dessa forma, dentro desses estabelecimentos começaram a se levantar diversos Heróis nacionais, o que acreditavam ser representantes da nação.
Nicolau Sevcenko fala dos representantes da Semana de Arte Moderna de 22 que estavam totalmente extasiados pelo orfismo que compunha a realidade paulistana, retratando isto em suas poesias, pinturas e músicas, algumas vezes de maneira positiva, outras demonstram um sentimento de perplexidade.


REFERÊNCIAS:
SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo, Cia. das letras, 1992, 390 p.
SALIBA, Elias Thomé. Cultura modernista em São Paulo. Estudos Históricos, Rio de Janeiro,vol. 6, n. 11, pág. 128–137.
CERTEAU, Michel de. A Escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.

Sites:

(Escrito à disciplina de Historiografia brasileira)


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

MUSEU CÂMARA CASCUDO: CONSTRUÇÃO DE UMA IDENTIDADE POTIGUAR?



INTRODUÇÃO:

Dentro das discussões aborcadas no decorrer desta disciplina, referentes principalmente as diversas dimensões do saber patrimonial, da memória, do turístico e etc., procuraremos dar uma praticidade a tais conhecimentos que servirão de suporte para analisarmos criticamente uma instituição que tenta 'preservar e mostrar' traços da cultura e outros elementos do estado do Rio grande do Norte, o Museu Câmara Cascudo. Para isto, foi-se necessário a visita neste estabelecimento que possui em suas dependências diversos objetos materiais Arqueológicos, maquetes e instrumentos que buscam representar tanto a materialidade, mas também a imaterialidade, o simbolismo da cultura do povo Potiguar e também de regiões próximas ao RN. Conversamos com alguns visitantes e também com os funcionários do local para sabermos a opinião dos mesmos quanto ao museu, sempre buscando a ética e o respeito ao MCC.
Todos os “ambientes” onde os visitantes do museu circulam foram confeccionados tendo uma intencionalidade, a instituição museu cria narrativas intencionais através de suas exposições, acerca da disponibilização pensada dos objetos que ali estão. O MCC enquanto um museu de antropologia e de ciências naturais busca representar algo, de modo a trazer à tona diversos aspectos destas áreas.
Todavia, deve-se olhar tais representações de maneira crítica, de modo que percebamos se tais representações fogem aos esteriótipos, as generalizações grosseiras que desvirtuam as reais identidades culturais dentro deste estado, tendo em vista que possuem outros itens expostos de localidades fora do RN.
Assim sendo, deve-se analisar também o Museu Câmara Cascudo como um ponto onde turistas que nunca estiveram no estado (também os próprios Potiguares), podem encontrar um dado resumo do que é o Rio Grande do Norte. Esta análise crítica também trará pontos que pretendem pensar este estabelecimento não apenas como um local que possui fins meramente acadêmicos e de pesquisa; sabendo que a parcela magna de pessoas que visitam o MCC são geralmente caravanas de estudantes, vindas de todo o território estadual; também se faz de maneira a ser um ambiente de consumo turístico.

MCC : mistura que eu gosto!


Exposições fixas do MCC


Neste ano o Museu Câmara Cascudo chega a seu quinquagésimo aniversário de fundação. Novos responsáveis pela instituição pretendem criar uma comemoração especial para esta data que, atraindo a atenção da população Potiguar, buscam trazer à tona a importância deste local. Funcionários do MCC dizem que mudanças no espaço físico já foram marcadas para o fim de 2010, trazendo novas salas, como por exemplo a de multimídia e outras transformações no espaço que visam uma melhor preservação dos acervos e conforto aos seus visitantes. São cinquenta anos coletando materiais de estudo das ciências naturais e humanas, por isto o museu é referência no RN, quando se tratando de um local onde podemos encontrar diversos elementos que recompõe traços da cultura, pré-história e geologia do estado.
Um dos grandes problemas encontrados é muito simples, talvez até já tenha sido pensado por outros, mas que até o momento não foi especificado aos visitantes ou resolvido pelos responsáveis. O MCC/UFRN não é um local onde se encontram apenas acervos que representam o estado do Rio Grande do Norte. Mesmo com uma grande quantidade de objetos arqueológicos, utensílios ritualísticos e artístico do RN, estes são encontrados e misturados entre acervos que fazem parte de outras regiões e que são algumas vezes disparos e anacrônicos.
Podemos encontrar no museu algumas representações da cultura indígena norte-rio-grandense, tendo como principais tribos os Tapuias e Potiguaras (representantes extintos do passado deste estado), aleatoriamente, também podemos observar um cocar indígena da tribo Gorotiré, do sul do Pará. Sem fala nos outros pequenos objetos e numa Máscara africana, vinda do Museu do Dumbo, Angola. Não desmerecendo tais acervos, que, esteticamente falando, são realmente admiráveis como obra de arte para se expor em um museu, todavia, estes fazem ligação ao RN apenas e talvez como referência das origens culturais. Se o intuito do MCC/UFRN é quer ser um local que busca mostrar diversos objetos aleatórios, até mesmo aos moldes do séc. XIX, faz-se necessário deixar claro isto para os turistas que pretendem conhecê-lo, tendo em vista também a carga simbólica que seu próprio nome representa, de um difusor do folclore e cultura Potiguar.
Adentrando na diversas salas expositivas principalmente a do primeiro andar,que possuem um abordagem voltada as ciências humanas, excluindo, claro, uma coleção de ossos de animais mamíferos, estas tendem a estudar sobre o passado cultural norte-rio-grandense com a amostragem do sincretístico, da liturgia e outras características de menção artística e social. Até então, tudo bem, até chegarmos num local onde são “representados” os objetos ritualísticos da Umbanda, Candomblé que fazem parte das raízes africanas aqui no Brasil. Não é preciso ser “filho de santo” ou frequentador assíduo dos terreiros de Natal e do RN para ver que existe algo de errado. Acredito que esta exposição não deseja mostrar a riqueza cultural em tais manifestações religiosas, pelo contrário, tem um caráter um pouco preconceituoso, buscando tornar exótico, a dar estranhamento aos que observam, não aproximação.
Existe também um instrumento colonial referente as aos grandes engenhos de cana-de-açúcar nordestinos, um grande moedor de cana. Até então fico a indagar o por quê de mostrá-lo, visto que só existiram dois engenhos de pequeno porte no Rio Grande do Norte e que não tinham tanta força quanto a agricultura e pecuária, esta ultima jogada junto desta peça sem muita exposição ou coerência. O Rio Grande do Norte não foi palco dos grande levantes escravistas e de engenho do período colonial brasileiro, mas foi um suporte valiosíssimo aos outros estados suprindo com produções agrícolas e da pecuária, daí a importância do sertanejo Potiguar.
Buscando entender agora os aspectos turísticos que até podem parecer estar fora de uma discussão mais aprofundada, todavia é de fato uma tarefa que se faz complexa e demasiado trabalhosa, principalmente se quisermos ligá-la a compreensão do MCC como construtor de um determinado discurso sobre o RN. A importância é significativa, tendo em vista o grau de demanda turística provinda de todos os territórios nacionais e internacionais ao estado. O que podemos estar pecando ao analisarmos o Museu Câmara Cascudo como ponto turístico é que desde a sua formação, dia 22 de Novembro de 1950 (dia do Folclore), este tendem ainda a ser um instituto Antropológico e de ciências da natureza de outrora, ainda ligado a uma Universidade Federal do Rio Grande do Norte.


Tendo como um dos fundadores da instituição o folclorista e antropólogo Luiz da Câmara Cascudo, este local foi o primeiro órgão de pesquisas da UFRN, trabalhando como estudo das características Antropológicas em primazia. Então, seria interessante deixar claro que o papel desta instituição foi por muitos anos totalmente o oposto do que hoje se estabelece. A própria delimitação dos ambientes é bem parecido com as de salas de aula e de pesquisa. Seria, depois destas informações, esta instituição de fato um museu? Claro que sim!, mas acredito que o passado da mesma não permite que este se estabeleça e seu destaque como um ponto de referência no Nordeste e até mesmo no Brasil.
A partir de então, pensando como se fossemos administradores deste estabelecimento, poderíamos extrair algumas coisas que descaracterizam o MCC. Em primeiro momento o espaço físico que supracitado ainda é aos moldes de uma escola de estudos e pesquisas, sabendo que o MCC/UFRN ainda pode continuar com seus estudos e isto é primordial para um museu que trabalha com cultura e espaços geológicos que, com as ações humanas, se modificam constantemente.
Existe um espaço enorme em desuso, talvez o dobro do museu. A ampliação das salas, área de lazer, lojinha de conveniência, artesanato e alimentação são importantíssimos para dar um conforto aos turistas que pretendem conhecer o espaço.
Divulgação e outro ponto de suma importância. A desconstrução da imagem que o museu possui aos Potiguares é de fundamental importância, pois é desta imagem que o espaço se projeta como um ambiente que merece ser apontado como referência turística, que representa de maneira orgulhosa o norte-rio-grandense, o seu estado e sua cultura.
A universidade tem um papel grandioso para isto, utilizando os conhecimentos dos diversas áreas do saber, como a Arquitetura, Engenharia Civil, Administração, História, Turismo, Jornalismo, Publicidade e Propaganda e assim por diante. Nada melhor que ter uma instituição super consolidada levando o nome da universidade para todos os cantos do mundo inteiro.
A tarefa dos que estudam a memória, patrimônio e turismo do nosso estado está intrinsecamente ligada a militância, a luta por uma representação que alcance satisfatoriamente os diversos e complexos elementos da identidade Potiguar e que precisam ser preservados e difundidos de maneira correta.
REFERÊNCIAS:

RODRIGUES, Marly. preservar e consumir: o patrimônio histórico e o turismo. In: FUNARI, Pedro Paulo; PINSKY, Jaime (orgs.). Turismo e Patrimônio Cultural. 4 ed. São Paulo: Contexto, 2007.P. 15-26.
LARAIA, Roque. Cultura: um conceito antropológico. 22 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
SITES:


PRÉ-HISTÓRIA DO RN: CONCEITOS E CORRENTES ARQUEOLÓGICAS



Introdução



As áreas arqueológicas no estado do RN são ricas em vestígios pré-históricos e mais ainda, vemos que os métodos de análise são deveras diversificados. Percebe-se através dos textos abordados no decorrer deste relatório, que esta concepção é de fato verdadeira. Estudando os textos da Anne-Marie Pessis e Gabriela Martin, estaremos analisando a concepção de tradição das pinturas e registros rupestres sobre os habitantes pré-históricos do nordeste brasileiro, chamando a atenção para o sítio Mirador e Lajedo de Soledade.
Também falando sobre o Lajedo Soledade, Leila M. S. Pacheco e Paulo Tadeu de S. Albuquerque relatam, em seus trabalhos textuais, buscando outra vertente divergente as primeiras. Veremos de onde suas análises se baseiam e qual o modelo arqueológico que permeiam suas concepções, procurando entender quais as contribuições deste estudo para a área da Arqueologia Pré-histórica do Rio Grande do Norte.
Sabe-se que ainda existem questões a cerca destes assuntos que devem ser discutidas, por tanto, este será o pressuposto para diversas análises futuras.
    1. O termo tradição (Nordeste e Agreste)
 Parelhas, Sítio Mirador: tradição Nordeste


Apodi, Lajedo Soledade: tradição Agreste (Este na foto sou eu!)

O conceito de tradição é geralmente assemelhado entre os modelos adotados pelos estudiosos da pré-história nordestina, onde este apresenta ordenadamente os registros gráficos por um grupo que representa uma identidade cultural com caráter abrangente. A Anne-Marie Pessis tem como atitude principal ao analisar o termo tradição, procurar padrões que permitam com que os materiais rupestres se tornem uma fonte confiável à ciência, não apenas estudando-os descritivamente, mas utilizando os painéis arqueológicos como fontes de pesquisa antropológica, sendo este um modelo pós-processualista. Gabriela Martin utiliza o termo tradição, sub-tradição e estilo seguindo a mesma ideia da Anne-Marie, mas com cautela, pois se deve, antes de tudo, entender que as pinturas são representações simbólicas tanto de um grupo, como das percepções singulares sobre um ambiente pouco conhecido.
No Rio Grande do Norte, as tradições mais estudadas são Nordeste e a Agreste, visto que são citadas em diversos trabalhos textuais de autores conceituados. Na Nordeste há a predominância de figuras humanas, animais e objetos com sua “leitura” reconhecível, tendo como representantes desta tradição o sítio Mirador em parelhas (Tradição Nordeste e sub-tradição Seridó) com pinturas rupestres que simbolizam, principalmente, a vida cotidiana da pré-história, às vezes trágica e violenta, com figuras possuídas de grande agitação e outras que representam um mundo lúdico e brincalhão, registrados pelo movimento de dança e agilidade das figuras acrobáticas e acredita-se que era um local onde os aborígenes enterravam seus mortos, pois se tende a compreender que existia uma mentalidade desde respeito a pavor, tornam este local distante de suas moradias.
Na tradição Agreste, podemos encontrar grafismos reconhecíveis, especialmente da classe da figura humana, sendo raros os animas. As figuras são representadas paradas, não existindo movimento dinâmico. O lajedo Soledade, uma formação de rocha calcária, cuja origem se deu a na época Cambriana, quando os continentes africanos e sul-americanos ainda se encontravam unidos. O Lajedo fica na cidade de Apodi, no sertão do Rio Grande do Norte. É considerada uma das formações mais antigas do Brasil que à mais de 90 milhões de anos atrás permaneceu coberta pelo mar, e por esse motivo foi possível encontrar animais marinhos fossilizados na região do Lajedo. Com o movimento das placas tectônicas e o recuo da água, essa imensa extensão de rocha calcária ficou exposta, passou a sofreu ação da águas pluviais e dos rios que se formaram entre suas fraturas, o que também alterou a superfície do Lajedo, formando verdadeiros painéis “artísticos” para o simbolismo rupestre.

    2. Uma analise processualista sobre o Lajedo Soledade


Paulo Tadeu de Albuquerque e Leila Pacheco, no texto “Lajedo Soledade: um estudo interpretativo” levanta a hipótese de um centro cerimonial. Utilizando conhecimentos científicos e modelos explicativos, perceberam que neste território, a mais de 50.000 anos, possuem grandes períodos de seca, sendo assim um local impróprio para uma moradia permanente. Demonstrando que este local era utilizado para cerimônias ritualísticas, pois, as pigmentações utilizadas eram misturadas feitas base de água, sendo que a única área hídrica próxima é a 3 km de distância. Os habitantes, no período de chuva, se dirigiam a este local para realizar, talvez, rituais relativos à chuva. A chuva não seria o objeto, mas um fator que corroborava na realização ritualística. Sem falar que levanta outra questão, a de serem coletados apenas materiais pequenos, afirmando que:
[...] ainda que a ocorrência fosse dez vezes maior, ou seja, ainda que tivesse sido encontrado 10% do material que teria sido utilizado nas proximidades do Lajedo, ainda assim seria pouco (PACHECO, L. M. S.; ALBUQUERQUE, P. T. de S., 2000, p. 121).
Eles não acreditavam na concepção de que os recipientes grandes teriam sido levados pelas chuvas e deixado apenas os pequenos, enfatizando cada vez a veracidade desta hipótese. Também foi percebida a especificidade de cada conjunto rupestre presente nos painéis deste sítio arqueológico, de forma que cada ravina pintada parece ter função especifica o que, deveras, amplia a ideia de centro cerimonial, contudo, não abandona a hipótese deste ter sido um Refúgio para povos em fuga, ou na busca por caça
Paulo e Leila se utilizam deste método teórico, pois acreditam que se deve conhecer as partes para entender o contexto dos sítios rupestre. Criticam outros arqueólogos que nem mesmo buscam entender o contexto, focalizando apenas nas descrições de imagens rupestres e objetos.

CONCLUSÃO

Através deste trabalho, foi-se buscado compreender as diversas vertentes no ramo da arqueologia, onde poderíamos utilizá-las e em qual contexto encaixá-la. O campo arqueológico é uma área do saber humano cheio de peculiaridades e complexidade. Quando utilizo a palavra “complexidade”, me refiro a abrangência de elementos ou partes da área arqueológica, cheia de linhas teóricas a escolher.
Problemas são visíveis dentro dos museus apontados, relativo à dificuldade de se trabalhar com os achados, visto que são expostos em quase total disparidade. O que se faz necessário é o trabalho de tematização dentro dos museus, compreendendo o estilo, tradição e localidade destes registros, sem correr o risco de cometer anacronismos sobre a pré-história de determinadas civilizações que conviveram neste território a milhares de anos atrás. O conceito de tradição foi trabalhado em conjunto com os pensamentos de Anne-Marie Pessis e da Gabriela Martin. Infelizmente, não foi possível encaixar a origem do conceito “tradição”, provindo do modelo Histórico-cultural. No entanto, o nível de absorção do conhecimento trará frutos futuros para a nossa carreira, cujo caráter de abordagem foi gratificante e instigante.

BIBLIOGRAFIA:


FUNARI, P. P. A. Arqueologia. São Paulo: Contexto, 2003.
JULIÃO, L. Pesquisa histórica no museu. Disponível em: < http://www.museus.gov.br/downloads/cadernosdiretrizes_quintaparte.pdf >.
MARTIM, G. Pré-história do Nordeste do Brasil. Recife, Ed. UFPE, 2005, Cap. VI – O universo simbólico do homem nordestino, p. 235-311.
MARTIM, G. Fronteiras estilísticas e culturais na arte rupestre da área arqueológica do Seridó (RN/PB). CLIO Arqueológica, Recife, nº 16, 2003, p. 12-32.
PACHECO, L. M. S.; ALBUQUERQUE, P. T. de S. O Lajedo Soledade: um estudo interpretativo. In: TENÓRIO, M. C. (org.). Pré-história da Terra Brasilis. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2000, p. 115-133.
PESSIS, Anne-Marie. Identidade e classificação dos registros gráficos pré-históricos do nordeste do Brasil. CLIO Arqueológica, Recife, nº 8, 1992, p. 35-69.
SANDERSON, A. N. F. da S. “Lages da Soledade”: uma contribuição à Pré-história do Rio Grande do Norte. Monografia. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Departamento de História. Natal, 2003, p. 27-54.
TRIGGER, B. História do pensamento arqueológico. São Paulo: Odysseus, 2004.



(Trabalho realizado à disciplina de Arqueologia)

POR QUE ESTUDAMOS HISTÓRIA ANTIGA ORIENTAL?




Alguns acreditam que estudar o Oriente Antigo é “trabalhar com o que não presenciamos”, mas estes não percebem que o passado é verdadeiramente vivo e ainda nos influencia de modo acentuado. Seria de fato, impossível criar um resumo perfeito sobre as relações de influências que tais civilizações proporcionaram a nossa sociedade, mas também não podemos silenciá-las, pois este é o papel do historiador, de dar fala ao passado.
Em primeira instância, seria interessante fazermos uma relação entre as nossas características culturais, políticas e cientificas com o Oriente Antigo, de modo a compreendermos que estes diversos povos contribuíram na formação de nossa sociedade e, a partir de então, traçarmos uma reflexão mais aprofundada.
Sabemos que os códigos jurídicos, o direito no geral, sofreram grande influência dos Romanos, mas não podemos deixar de lado a contribuição dada pelos povos mesopotâmicos. Uma das maiores heranças sociais que estes povos nos proporcionaram, além da escrita, claro, foi a sua organização jurídica, mais precisamente, os códigos e normas que prezavam a equidade e o controle social pelo estado. A criação destas leis, tendo como principal exemplo o código de hammurabi, tornou possível aos seres humanos um novo olhar à justiça e normais que deveriam seguir em prol de uma organização social. Por tanto, a contribuição dos Sumérios e dos vários impérios semitas para a organização legislativa foi de suma importância ao desenvolvimento do direito mundial.
Como todos sabem, a cultura egípcia é fortemente ligada à religião e a maioria dos avanços desta civilização, no que diz respeito à medicina, foram descobertas pelo contato empírico com o organismo humano, em práticas ritualísticas. Como acreditavam na vida após a morte, mumificavam-se os cadáveres dos faraós (predominantemente), colocando-os em pirâmides com o objetivo de preservar o corpo. Então, ao se realizarem as retiradas dos órgãos, eles descobriam cada vez mais sobre a anatomia humana e promoviam um salto no desenvolver da medicina.
Não se poderia deixar de lado a contribuição dos povos Babilônicos, Sumérios, Assírios e Caldeus no desenvolvimento das ciências, com o estudo da astronomia e da matemática. O espantoso desenvolvimento da astronomia, ainda ligado a astrologia, ocorrido na mesopotâmia, abriu portas para os estudos astronômicos ocidentais. Acreditava-se que os primeiros estudos teriam surgidos dos Caldeus, mas foi na Suméria e, com mais intensidade, na Babilônia que a astronomia se fazia mais sofisticada. O sistema numérico foi outro avanço, que de longe, era mais prático que os códigos numéricos gregos.
Dentro de todas as características originárias do oriente, fica a indagação: por que só atualmente o Oriente Antigo vem ganhando destaque nos estudos historiográficos, principalmente no Brasil?
Seria importante entender o contexto histórico do país para perceber o jogo de influencias que desmotivaram o estudo reflexivo e aprofundado da antiguidade oriental. O Brasil, com a repressão da Ditadura Militar, entrou em um processo de difusão dos estudos meramente positivistas, deixando a história antiga como simples interesse de curiosidade. A falta de estudos problematizados e reflexivos vai ao encontro do interesse do poder vigente no país. Mesmo o Brasil saindo do período de ditadura, na década de 80, o estudo de antiguidade não saiu das influências de poder, provindas de historiadores brasileiros que preferiram ver a antiguidade oriental na mesma situação. Talvez porque o Brasil tenha passado muito tempo olhando o “umbigo” ocidental, numa visão totalmente eurocêntrica ou talvez tenha se gerado um processo dicotômico entre oriente e ocidente totalmente maniqueista, sem uma analise de contribuições mutuas.
O Oriente Antigo deve ser estudado e relacionado à antiguidade ocidental para que se possam gerar relações de contribuição entre estes polos e não os diferenciando dos processos históricos de surgimento e desenvolvimento da sociedade atual.

(Escrito para a disciplina de História Antiga)