sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

ANÁLISE DO LIVRO "ORFEU EXTÁTICO NA METRÓPOLE" A PARTIR DA "OPERAÇÃO HISTORIOGRAFICA" DE MICHEL DE CERTEAU


Lugar de fala:

Esta parte do roteiro analítico buscará entender as influências sociais que levaram o Nicolau Sevcenko a produzir seu trabalho. Por tanto, O importante ao tratarmos da história de vida deste historiador, seria pensarmos como as marcas de seu passado, os caminhos trilhados moldaram o Sevcenko até chegarmos a produção da sua pesquisa, do seu livro. Compreender o contexto histórico da época em que o Sevcenko foi interligado é extremamente importante para que possamos entender, por exemplo, o porquê do mesmo em estudar a História da sociedade e cultura Paulistana nas primeiras décadas do séc. XX. e não algo relativo a área das ciências naturais, tanto incentivado por sua família.
Seguindo um caminho que, no começo, até pode parecer um estudo meramente biográfico, mas que é de extrema importância para percebermos a construção do historiador e crítico da cultura Nicolau Sevcenko. Voltaremos ao passado de sua família e seguiremos até produção e publicação de sua tese de Livre-docência, Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes nos 20.
A família Sevcenko possui um passado polêmico, uma história que se entrelaça com outra história ainda maior e que marcou para sempre suas vidas. Filho de imigrantes Ucranianos, fugitivos da perseguição Bolchevique, Nicolau sabia que existia uma grande ferida não cicatrizada em sua família, lembranças de entes queridos mortos pela repressão stalinista e que era como um tabu para os mesmos,  o assunto não podia ser discutidos sem gerar desconforto e tristes lembranças entre seus familiares. Nascido em 1952, num período onde a 'Guerra fria' se fazia presente, o futuro historiador não pode deixar de lado a compreensão do passado de seus pais e parentes. A inquietação por querer compreender o contexto histórico de sua família, motivou Nicolau Sevcenko a ingressar na Graduação em História, mesmo ainda possuindo grande interesse pelas ciências naturais, principalmente pela medicina, que vem outrora motivá-lo a escrever sobre “A revolta da vacina” de 1983.
Outra questão que se liga ao processo de influências ligado a família do Sevcenko. Talvez por serem imigrantes Russo, vitimas da repressão lá ocorrida, ainda acreditavam no retorno ao seu país de origem. A primeira língua estudada pelo historiador foi a Russa, aprendendo também a religião e costumes de seu país. Quando perceberam que continuariam por um tempo maior no Brasil, colocaram o menino nas primeiras letras. O choque foi inevitável, fazendo até mesmo achar que todos os alunos que estudavam com ele eram estrangeiros. Lamentavelmente, sua mãe desfez sua inocente afirmação, dizendo que o mesmo era o estrangeiro no país. A curiosidade pela cultura brasileira foi quase que automática, fazendo com que o mesmo consumisse diversas obras literárias, músicas e participasse também do êxtase dos esportes de massa.



Na academia, Sevcenko pôde ampliar ainda mais seu mundo, principalmente por ser orientando da Maria Odila, que o norteou até o seu doutoramento. Começou a estudar temas ligados a cultura e sociedade, se ausentando então das discussões abarcadas pela realidade política e econômica que o país vivenciava na década de 70. Sofreu muito preconceito por parte de seus colegas de curso (afirmavam que ele desfocalizava as discussões ditos importantes naquela época, período de ditadura militar), mesmo assim, continuou seus estudos, criando sua tese chamada “Literatura como missão”, que não foi aceito pelo departamento de história, encaminhando para o de letras que por conseguinte o repassou para Ciências sociais. Por fim, retorna ao curso de história, onde esteve na banca examinadora o Sérgio Buarque de Holanda e outros grandes professores da USP. Numa de suas entrevistas, Nicolau afirma ter “lavado a alma” ao receber os Elogios do escritor de Raízes do Brasil.
Através da trajetória de vida do historiador, seus caminhos e influências, forçosas ou não, moldaram a mentalidade deste homem, tornando-o hoje um dos maiores representante da história contemporânea brasileira.
PRÁTICA:
Na década de 70 e 80, surgem outras discussões dentro da academia brasileira e que por conseguinte permitiram discussões que transcendem às visões econômicas e políticas, tanto discutidas no âmbito historiográfico daquela época. Sevcenko, orientando da Maria Odila, contestadora do Positivismo dentro do nosso país, utiliza-se desta nova corrente que permitem o uso de fontes diferenciadas como: literatura, iconografias e música.
Utilizou-se, por exemplo, de cronicas de jornais da década de 20 para mostrar uma comparação dos diversos tipos de identidades que compunha a cidade de São Paulo neste momento histórico. Os dois crônistas, 'S' e 'P', visualizam a realidade que se estabelecia de maneiras distintas, até certo ponto dialéticas. Um se entregava profundamente ao êxtase que mobilizava as massas, o carnaval, e o outro se propôs a um observação voyeurista, podendo assim entender e se comover com o outro lado da moeda. No livro podemos encontrar diversos trechos de poesia e fotos com representações artísticas e festivas, mas também imagens dos 'heróis' nacionais que se ligavam aos movimentos Órficos.
Podemos encontrar, como fonte de referência para a compreensão do contexto histórico nacional, além de uma gama de materiais como estatísticas e periódicos publicados, mas também as obras de Sérgio Buarque da Holanda (Raízes do Brasil) e Paulo Prado (Província e Nação). Hobsbawm (A invenção do cotidiano e The Age of Empire) e Hannah Arendt (Entre o passado e o futuro) já no âmbito internacional. Sem falar, nos estudos que ele já havia publicado (Literatura como Missão e outros).
Utiliza-se de Nietzsche para exemplificar a questão da dança como um elemento de exaltação do corpo em detrimento da mente, Walter Benjamin ao discutir a ideia de modernidade e urbanização e tantos outros vários pensadores que auxiliam na busca do Sevcenko na compreensão dos processos de dissolução das identidades e da cultura paulistana.
ESCRITA

Orfeu, personagem mitológico que, utilizando-se de sua harpa, detinha um poder de atingir a alma de todos os que ouviam de suas melodias, provocando uma espécie de êxtase frenético e incontrolável, foi o instrumento comparativo utilizado por Nicolau Sevcenko para dar luz a realidade paulistana do início do séc. XX. Orfeu tinha o poder de juntar ao seu redor até as pedras e elementos fixos, assim como o espirito que se manifestava na cidade de São Paulo, principalmente na década de 20, onde grande multidão de pessoas, esquecendo-se de suas próprias realidade, entregavam-se a contemplação artística de massas e a frenesia caótica e inconstante dos movimentos que se estabeleciam junto das casas, ruas e cada parede da gigantesca cidade metropolitana de São Paulo.


O sentimento de dissolução das identidades, que por conseguinte foi trocado uma crosta indefinível de sentimentos, batidas e movimentos, promoveram um sentimento de não desejo do passado, um sentimento que a lenda Orfeu pode nos fazer compreender, pois com olhar para trás (Os cinco “G” citados pelo autor), traziam sentimentos ruins e de tristeza a população paulistana.
Sevcenko não constrói uma narrativa, mas diversas que se entrelação e se completam, como um emaranhado de teias que produzem uma imagem profunda e tocante do passado nacional e mundial, tendo em vista que o autor não deixa de contextualizar todas a cadeias de influências, com os seus respectivos causadores: movimentos imperialistas, Primeira Grande Guerra, Segunda Revolução Industrial e tantos outros. O processo de desconstrução da mentalidade escravista, que se fazia em processo lento e doloroso, com o descaso do governo às classes menos favorecidas, o imigrantes que detinham suas particularidades, alto afirmavam-se dentro da cidade e utilização mecanismo “órficos” pelo governo para promoção de suas candidaturas.


Posso citar também, na segunda parte de suas análise, sobre a construção de espaços que pudessem promover diariamente todos as manifestações supracitadas, como estádios de futebol, casas de chá e outros. Dessa forma, dentro desses estabelecimentos começaram a se levantar diversos Heróis nacionais, o que acreditavam ser representantes da nação.
Nicolau Sevcenko fala dos representantes da Semana de Arte Moderna de 22 que estavam totalmente extasiados pelo orfismo que compunha a realidade paulistana, retratando isto em suas poesias, pinturas e músicas, algumas vezes de maneira positiva, outras demonstram um sentimento de perplexidade.


REFERÊNCIAS:
SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo, Cia. das letras, 1992, 390 p.
SALIBA, Elias Thomé. Cultura modernista em São Paulo. Estudos Históricos, Rio de Janeiro,vol. 6, n. 11, pág. 128–137.
CERTEAU, Michel de. A Escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.

Sites:

(Escrito à disciplina de Historiografia brasileira)


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